Concentração precede meditação assim como a meditação precede o samādhi, estas três técnicas no conjunto recebem o nome de samyama. Samyama é a tríade final do Yoga de Pātañjali. Ao executar samyama, você está executando dhāranā-dhyāna-samādhi numa só sentada.
O objetivo do samyama é trilhar esses três passos em direção ao samādhi, por isso que dhāranā-dhyāna-samādhi atuam conjuntamente e um sempre como um prolongamento da outra. Samyama significa “ir junto” e é assim que estas técnicas estão interligadas. Neste “ir junto” é a mente que vai transitando de um nível para um próximo superior. Segundo Pātañjali:
Trayam ekatra samyamah
Samyama é a pratica dos três passos.
Yoga sūtra III-4
Taj jayāt prajñālokah
Do sucesso (do samyama) advém o conhecimento direto.
Yoga sūtra III-5
Imagine um atleta, um maratonista que está prestes a iniciar uma competição. Ele está na linha de saída e o seu objetivo é a linha de chegada. Ele terá que percorrer os primeiro centímetro para que estes se tornem o primeiro metro. Assim como terá que percorrer vários metros para que estes se tornem o primeiro quilometro. Após vários quilômetros a linha de chegada surge e o maratonista cruza esta linha chegando ao objetivo. Para obter êxito, o maratonista deve percorrer todo o percurso, você não pode simplesmente partir do meio do percurso ou simplesmente partir próximo da linha de chegada. Terá chegar ao objetivo, um bom condicionamento físico, mental, muita concentração, foco, objetividade, excelente alimentação e principalmente muita disciplina é requerida ao atleta para que o seu objetivo seja alcançado. Essa disciplina não vem de um dia para o outro, exige anos e anos de muita dedicação e perseverança.
E o que o maratonista tem a ver com o samyama? Tudo! Você é o maratonista que necessitará de anos de preparo, muita dedicação e o samyama é exatamente o seu percurso: centímetros-metros–quilômetros = dhāranā-dhyāna-samādhi. Cabe somente a você optar por entrar nessa corrida ou não. A única diferença é que objetivo do sādhana (prática espiritual) não é vencer os outros e sim superar-se a si mesmo a cada dia e a cada passo dado.
Algumas pessoas dizem que “vão fazer uma meditação” ou “agora eu vou sentar e meditar”. Na verdade isso é um de erro de interpretação. Na verdade quando estas pessoas dizem que vão meditar, deveriam dizer que vão executar um ekāgrata, fixar a mente em um ponto visando diminuir o número de pensamentos para poder atingir pratyāhara (abstração sensorial) e assim fluir para o samyama. Poderiam também dizer que vão executar um samyama ou mais simples ainda: esvaziar ou limpar a mente de todos os pensamentos e deixar que a busca ao seu verdadeiro Eu aconteça.
O erro não está no que as pessoas falam, o problema é que foi convencionado desse modo e agora fica complicado mudar todo um pensamento vigente, assim como a melhor tradução para a palavra meditação seria contemplação. Você contempla algo para que este algo releve você a você mesmo.
Quando se pressupõe meditação, entende-se que a pessoa vai sentar e esvaziar a mente rapidamente, mas isso não acontece assim tão de repente. O que acontece é um processo de concentração inicial (dhāranā) que precederá a meditação (dhyāna), mas como isso já está convencionado mesmo, deixa assim, o importante é ter conhecimento dos passos até chegar na meditação.
Quando executamos samyama, o mesmo objeto ou suporte de concentração será utilizado no processo dhāranā-dhyāna-samādhi. No samyama, a mente flui naturalmente de um nível para o outro, por este motivo que o foco mental deve ser o mesmo. Quando isso realmente acontece, você nem percebe que transitou da concentração para a meditação, você simplesmente flui em estado de meditação e saberá direitinho se meditou ou não. Se após o samyama permanecer uma sombra da dúvida na mente é porque você não meditou. Aquele que medita de verdade desfaz a dúvida se meditou ou não, não ficará dúvida em relação a isso, pois todas as dúvidas se desfazem na meditação e a sensação de paz e plenitude completa o ser.
Ao esvaziar a mente é se desprender do seu intelecto e ego. Amplia-se a consciência do seu verdadeiro Eu e percebe-se que este Eu deve estar em estado de equanimidade perante os outros Seres, esse é um dos grandes frutos colhidos. Você não é melhor do que ninguém assim como ninguém é melhor que você, todos vivem nessa esfera de transitoriedade e impermanência. A meditação deve ser vista como uma semente que demora muitos anos até que suas primeiras flores surjam. As sementes primeiro criam raízes fortes para depois crescer em forma de árvore. Criam-se valores internos com a prática do samyama e as nossas atitudes externas serão apenas um reflexo desses valores internos enraizados no nosso ser. Disciplina, paciência e fé nos ensinamentos dos Gurus, são três chaves que abrirão as portas da nossa mente para que lentamente possamos desfrutar esse oceano de bem aventurança.
Hari Om Tat Sat – Om Namah Śivaya
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Texto de Daniel Nodari Mahādeva – yogashamkara@gmail.com - (51) 9186.1617
YOGA EM CACHOEIRINHA / RS http://yogashamkara.blogspot.com.br/
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